segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Sempre me conhecendo melhor.

Estava caminhando, rumo a minha casa( se é que a denominação está correta) ainda em São Paulo e vejo em uma das escuras esquinas frias da região do centro três pessoas em frente a um dos vários bares de terceira. Dois homens e uma mulher.
A mulher é quem me chama a atenção por estar apoiada em suas muletas. Nitidamente havia uma deformidade, um arqueamento que faz acreditar que ela seria vítima de uma polio. Evito a ficar a observá-la para que não perceba meus olhares e acarrete um constrangimento para aquele ser humano que está ali.
Enquanto estou a passar por eles a conversa diminui o seu tom e começo a temer se fui flagrado em minhas observações e talvez possa surgir palavras duras e em parte merecidas pela minha indiscrição.
Aquela mulher toma folego e começa a falar e estou prestando atenção torcendo que não confirme meus pressentimentos.
A frase reproduzo agora, fielmente:
- Adoro japonês ainda mais de pernas grossas, tão grossas que dá pra perceber mesmo de calças.
Podem rir, realmente esperava tudo dela menos isso.
Fiquei muito bravo e indignado.
Foi nesse momento que eu me perguntei, qual seria o motivo de minha cólera.
Fui pensando um bom trecho do caminho e admito que o resultado de minha análise envergonha-me. Não o sufuciente para guardar só para mim. Assim deixo escrito aqui como minhas memórias ou para qualquer pessoa que esteja no ócio e pré disposto a ler o que estou a escrever.
Primeiramente que se fosse uma linda mulher estaria até hoje guardando carinhosamente este momento. Então, por que está sendo tratado dessa forma?
Concluo que primeiro tenho conceitos que devo rever. Primeiro que ela tem necessidades como qualquer outra, o mal gosto deixemos de lado...
O fato da enfermidade não lhe tirou sua sexualidade e é um erro que admito ser um absurdo pensar algo que não seja isso.
Com esse fato não estava preparado e o que sentimos por pessoas que possuem alguma "deficiência" tendemos a achar que são especiais demais para possuir " defeitos" como qualquer ser humano.
Minha vaidade também foi abalada com o elogio, mesmo de forma tão grotesca, que não seja de uma pessoa fora de padrões aceitos e cultuados pela nossa cultura que tanto critico.
Prefiro acusar ao negar e talvez assim seja realmente expulso de meu interior, ou pelo menos faça que eu me esforce um pouco mais.

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