quarta-feira, 26 de junho de 2013

QUIMERA

Éramos em quatro, íamos para escola juntos de ônibus urbano e no caminho sempre aconteciam conversas e causos para entreter e passar o tempo até o prédio da luz da sabedoria.
A maior diversão era, sem ninguém saber, que dávamos notas para as garotas que passavam pelo corredor. As notas seguiam o padrão de árbitros do basquete, um, era o indicador, dois, indicador e o dedo médio, seis o polegar, zero, o punho cerrado. A única fração aceita era o meio para facilitar e qualquer gesto que induzisse ideia de metade era compreendido.
As notas de beleza cada um tinha seu critério, eu valorizava o conjunto, tem que ser bela indo e vindo. Ainda teria que despontar o libido aos nossos ânimos.
Para Atílio o critério era quantidade é qualidade, quanto maior fosse o tamanho da poupança da candidata, maior era sua nota.
Armindo já achava que a mulher perfeita era a que tivesse um lindo rosto, pois dizia que à noite todos os gatos são pardos e o que conta é o desfilar com uma beldade invejada por muitas e cobiçada por outros tantos em trajes respeitosos.
Ciryllo era um chato, nunca estava satisfeito, pois mulher perfeita, nota dez, era a garota da Playboy que guardava com tanto carinho a edição antológica da Luciana Vendramini. Com esta imagem de perfeição, jamais deu uma nota acima de seis e sempre estava a achar defeitos nas garotas do coletivo.
Um belo dia, sobe a bordo uma garota que se não fosse improvável e beirando o impossível, diria que a Vendramini estava a se acomodar num repugnante banco de fibra de vidro da linha 0321. Se fizesse um teste genético, teria 99,9999999999% de serem gêmeas univitelinas, um clone.
Todo mundo olhou para Ciryllo esperando sua nota e ele com o polegar e indicador, acusa uma mísera nota sete...
Chegando no ponto, descemos e fomos questionar como pudera fazer aquilo, já que ela era exatamente como a Lucinana na Playboy, só que com roupa.
Eis que Ciryllo inspira vagarosamente, olha para nós e diz:

- Ela não anda, não cheira, não fala, não pisca, não encanta como a Vendramini de meus devaneios...

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