quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Relacionamentos...

Sou filho do meio, tenho outras duas irmãs. Apesar de lembranças de muita artes e fugas do chinelo da minha mãe, ainda lembro muito mais das artes com meus primos, colegas de escola e vizinhos. Este que tinha uma amizade secreta, pois moravam numa casa improvisada em terreno irregular e a minha mãe os via como pessoas que eu não devia relacionar. Pegava a bicicleta e dizia que andaria a esmo, mas meu destino era com a molecada que se divertia à beira do córrego e um terreno baldio que parecia mais com um lindo parque.


Brincadeiras de menino, soltar pipa, bola de gude, mana mula, futebol, polícia ladrão, maceta.

Sem dizer as diferenças e zoações que se tratavam na porrada, ira esta que durava somente alguns minutos ou no máximo um dia. Coisas de menino.

A gente cresce e descobre diferenças entre meninos e meninas, a olhamos com outros olhos, aflora a magia e vem os dilemas de não saber como se relacionar com estes sentimentos.

A minha vítima é uma garotinha um ano mais velha que parecia uma eternidade naquela época. Cheia de curvas e brilho que me cativava sem ainda entender os motivos nos meus pouco mais de dez anos. Ficava matutando e planejando o que faria para chamar a atenção daquela menina que onde passava tua ficava mais claro e perfumado. Como era cheirosa...

Eis que num momento de minha genialidade (pelo menos aparentava), tenho a brilhante ideia de fazer uma travessura com a menina.

Vou ali e puxo de leve suas tranças.

A minha vítima logo torna-se meu algoz, sou xingado, achincalhado, humilhado diante de todos e como não poderia deixar por menos, meus colegas estão a gargalhar do fato e sinto como estivesse nu diante daquelas pessoas. Como se toda esta desgraça que me assola não bastasse, sou chamado pela professora e fico de castigo o resto do intervalo. Que sirva para refletir sobre o que fizera, bradava a doida enfurecida que chamavam de guia do conhecimento.

Aí está, tudo que ninguém explicava o que eu tinha feito de errado, uma vez que travessuras eram aceitas e faziam parte das brincadeiras entre meninos. Acho que o trauma me acompanha até os dias de hoje. Seria, na realidade, só uma desculpa pelos meus insucessos?

A adolescência foi emergindo e depois do incidente, estava mais esperto (sempre superestimava minha auto avaliação) e desta vez vou aprender o que fazer.
Peguei escondido o diário da minha irmã, não para saber de seus segredos, mas para saber como a mente delas (mulheres) funcionava, já que percebera da pior maneira que éramos diferentes. Pegava também suas revistas (Capricho) pois não tinha dinheiro e muito menos coragem de comprá-las. Além disso baseei relacionamentos com o que assistia em alguns filmes da Sessão da Tarde. Amizade com as meninas e depois o romance viria naturalmente.

Bom, nem preciso dizer que passei toda adolescência amigo das meninas com a maior dor no coração que poderia carregar, pois eu era o garoto mais fofo, e ser fofo, acreditem, não é o sonho de nenhum rapaz hetero afetivo.

Desenvolvi uma hiper – baixa – autoestima com tentativas e muito mais erros que qualquer Lair Ribeiro poderia considerar superável.

E assim, como eu, há muitos e muitos que vivem e viveram a mesma situação e este homem que traz esta bagagem que vai se relacionar. Um cara cheio de medos, frustrações, insucessos e inseguro que tenta transparecer segurança e atitude enquanto está por um fio de borrar as calças. Esta é a magia dos relacionamentos.

Nenhum comentário: