sábado, 2 de agosto de 2008

O poder seduz.


Tive uma passagem pelo Judô. Isso realmente foi há muito tempo mesmo. Pois eu era uma criança de apenas dez anos de idade. Foi uma passagem de um pouco mais de um ano pela academia patrocinada pela prefeitura de Santo André e como a minha querida mamãe não fez a inscrição, eu simplesmente fui proibido de continuar. Não sei como seria se tivesse continuado.

Mas o que leva a lembrar- me desse fato pretérito é outra cousa. Tive uma experiência ali que me deixou pensativo por muito tempo. Dentro dos treinos de Kung-fu, quando começamos a representar o seu nome dentro e fora. Começamos a aprender técnicas de outros estilos de artes marciais. Pois isso ainda ocorre de algum ser desorientado querer ter o seu minuto de fama e comparecendo ali e tentar usar de suas técnicas para mostrar o quão falho é aquela determinada linha. Fato triste e que realmente dificilmente ocorre, mas como diz o velho ditado: "seguro morreu de velho". Portanto, uma das técnicas passadas era a luta de chão que é especialidade de jiu-jiteiros e que remetem ao meu tempo de Judô. Que voltei a refletir a minha experiência de criança e cheguei a algumas conclusões que na época era incapaz de compreender. Foi a aplicação do estrangulamento chamado no Judô de Shimewaza e a técnica utilizada foi a juji jime kata. Que está ilustrando nesta mensagem para facilitar a visualização do leitor. Pego dessa maneira com as costas do oponente contra o solo, não há como escapar. Em segundos a pessoa desfalece. A maneira de se evitar é não ficar nessa posição. Apesar que no jiu-jitsu é pouco utilizado pelo fato que dificilmente o adversário deixaria ser pego em algo tão primário. Ainda digo que tudo isso não tem a ver com o que eu quero narrar que foi a sensação de....sentir- se Deus... Sim, pois quando você aplica este estrangulamento é bloqueado a sua respiração e a circulação do sangue à cabeça, os olhos de seu oponente começam a girar se ele não "bate"(1) rapidamente e tenta com bravura( para não dizer burrice) se livrar da mesma. Só que em uma disputa que eu consegui aplicá-la e ocorreu o descrito acima, por uma fração de segundo eu não queria soltá-lo, pois aquilo facinou-me por demais. Sentia que a vida da pessoa estava a minha mercê, tinha o poder de manter ou ceifá-la a meu bel prazer.

Hoje percebo que fui seduzido pelo poder e tracei um paralelo que envolve a violência, que é o fato de uma pessoa que sofre opressão por anos a fio e pega em uma arma se não ocorre algo semelhante. Nada, nunca teve controle de coisa alguma, só conheceu a dor e desmandos. Oprimida sempre pela força e jamais conheceu algo como respeito, só o medo. De repente ela se encontra do outro lado dessa realidade, será que não se sentiria seduzida por essa mesma força sombria. Eu apliquei o golpe mesmo depois de tornar-me um homem e confesso que ainda seduz. Será que um adolecente privado de tudo, do possível ao imaginário teria equilíbrio ao sentir essas sensações? Bom, não sou nenhum psicólogo ou estudioso das patologias sociais. Só estou tentando entender alguma das coisas que ocorrem em nossas vidas. Não entro nem no mérito da responsabilidade que governantes e nós da sociedade temos sobre esse drama social. Só acho interessante esta visão que me fez refletir e chegar ao que acabo de passar aqui para vocês.

(1)o ato de bater é entregar a luta, onde você deve bater em qualquer parte do corpo do adversário por três vezes ou enquanto não se sente que o aplicador está ciente de sua desistência.

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