sexta-feira, 3 de julho de 2009

Momentos Homo na Vida de um Hetero VI.

Este deveria ser o que abria a série, não sei como fui esquecer. Talvez o fato de ser motivo de risos por muito tempo e até hoje um primo meu sempre lembra do ocorrido faça eu colocar no fundo dos arquivos perdidos da memória.
Isso ocorreu há muito tempo na época da despedida de solteiro do meu primo. Era uma tradição da turma que ia se enforcando passar pela provação. O rito iniciava com a tradicional parada no gueto dos travestis de Santo André, a Avenida Industrial, local como o nome sugere cercado de fábricas e armazéns e ao anoitecer terra de ninguém. A brincadeira consistia em vestir o sujeito com roupas femininas e ele ficaria na esquina até um veículo o abordar. O conjunto era completo: peruca, tomara-que-caia e mini-saia. Claro que o restante ficava longe a observar.
Meu primo não levava jeito para isso com certeza, pois em vinte minutos nada de ninguém parar, só um pedestre passou e comentou que ele ia morrer de fome. Claro que não parava aí a brincadeira. Tirava-se muitas fotos(já viu algum japonês sem câmera) e ainda pegávamos um dos profissionais da área para contratá-lo para uma seção de fotos. Meu primo todo contrariado mas sabia que resistir só prolongaria seu "triste" momento. Lá vem ela(e) e já chega colocando a mão dentro da fantasia querendo apalpar as partes baixas do meu primo que nesse instante está estarrecido com a cena e seus olhos pedem por socorro.
Todos gritam com o intuito de que o contratado pare. Ele nos questiona, afinal fora contratado para isso. Explicamos que queremos fotos eróticas e não ponográficas. Ele entende e um amigo torna-se o diretor das cenas que constariam do nosso álbum de memórias. Eis que, satisfeitos, estamos de partida do local, agradecemos o trabalhador noturno e seguiremos a nossa festa.
Nesse momento eu vejo que consolador dos solitários da noite me chama: Ei, e você japinha.
Confesso que já havia percebido uns olhares esquisitos andei devagar para que os demais passassem à frente e não percebessem nada porque o depois seria o previsível. Fui torcendo para que o sujeito desistisse. Desejo não realizado...
Ela vem até a mim e chama novamente: Aí, japa atleta.
Meu primo acusa e faz sinal para eu parar e atender a requisição do profissional do amor(risos). Viro em direção a ela para ouvir o que ela tem a dizer enquanto todos ficam a nossa volta esperando ouvir qual seria o assunto e usá-lo para me sacanear.
O travesti diz:
- Você não vai querer nada?
Eu:
- Não, o que queria já foi atendido. Obrigado.
Ela:
- Então, mas se você quiser, pra você é de graça.
Eu:
- Não, não mesmo, sinto muito mas sou hetero. Obrigado mais uma vez.
Já me retirando sob risadas de todos.
Aguentei a zuação por dias e mais dias, afinal foi assunto da noite. Todos que encontrei no casamento perguntavam e o pessoal narrava com riqueza de detalhes. Muitos ainda criados pela imaginação fértil ou pela simples maldade de colocar-me em situação mais vexatória.
Mesmo hoje, ainda meu primo se o assunto surge por algum motivo, volta a cena e pacientemente tenho que ouvir tudo novamente e ser ironizado por todos. Mas a esta altura do campeonato, já estou acostumado e nem ligo mais.

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